"Abres um livro, este, e procuras. O que se procura não se sabe. E é preciso isso de não se saber se prolongue até à desmesura do processo de procura. Só assim um livro dura, suspenso da sua reticência, na euforia da promessa. Porque cada livro é sempre a promessa de uma palavra definitiva - não a última, mas a primeira. Uma palavra, ou outra coisa qualquer, um gesto, por exemplo, um pormenor, a curva da mão, um olhar, uma fita azul, um candelabro, uma jóia, poderá ser, sim, a mão atrás das costas, o contorno agudo do cotovelo, o cabelo apanhado logo ao sair da cama, a veia nebulosa de um braço, o pregueado de uma saia vermelha, será sempre aquilo a que o olhar se prende, não por curiosidade, que isso seria demasiado fútil, a curiosidade não tem lugar nestas coisas, mas para não cair, para não descer demasiado dentro de si mesmo, para manter à tona da água os olhos entreabertos, para emergir da noite da matéria, a silenciosa noite do mundo ou outra oisa qualquer, como um olhar, po...