o pijama é roxo. as calças acabam pouco depois dos joelhos. por baixo tem uns collants brancos muito justos. parecem quentes (está um calor dos diabos e são quentes!) empurram-na pela rampa, entra na sala. os joelhos são pulsos, as pernas braços. é a primeira vez que te vejo: quatro pulsos e quatro braços. tanto tronco e quase nada que toque o chão, só as rodinhas de borracha gordas.
quem a traz trata de papeis. está quase deitada na cadeira, pequenina. cai-lhe o corpo. sai dele. treme treme treme, chora. toda ela treme e chora com todos os braços, pulsos, até com os caracóis cinzentos cortados rente. treme sem lágrimas e geme baixinho. ninguém mais a vê e eu sentada, ela sentada. deixaram-na à minha frente. geme baixinho, a filha limpa-lhe a cara de lágrimas que não existem, fala com ela, mas tem os papeis, a fila, a cadeira não cabe junto ao balcão e separam-se por um papel colado, torto. "fila única". cruza e descruza os braços, afinal pernas, passa muitas vezes o polegar na linha da vida, agarra-se nas mãos, as minhas.
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