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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2005

o salto

hoje é dia de dar o salto

caracol

"- O que é isso aí no cabelo? - É um caracol. - Tá morto?" caracol, caracol pauzinhos ao sol... quando adormecias nos meus braços no tempo de seres ainda mais pequenina era assim

M., C., T. e todos os outros principios de nomes de crianças

A M. ganhou o hábito de dormir em cima de livros desde a semana passada. o guia turístico de Paris, juntamente com o urso do pijama, são os companheiros de sonhos agora. A C. delira também com a palavra "Paris", com todas as palavras que encontra. continua a gostar de ouvir histórias de quando era pequenina e a não compreender o "mundo antes de eu nascer". O T. faz experiências e fala inglês, faz canções nas viagens de carro, sonha com cobras, ri-se naquele sorriso de rir o mundo inteiro. A M., outra, brinca com uma casa de bonecas e conta a todos uma história, disputa uma torradeira de brincar com o irmão pequeno. D. quer a torradeira para pôr as torradas a fingir a fazer e vê-las saltar no fim. "Já tá!". A C., outra, continua com os ensaios de ballet para o espectáculo do fim do ano. A R. foi fazer análises ao sangue e saiu de lá com dois braços picados, uma chucha na boca e uns olhos muito muito encarnados de quem parecia ter mergulhado na piscina. O J.

Lisboa, 18-19 Dezembro 1977

minhas coisas tão docemente amadas, meu Oceano que és para mim o que nunca foste nem serás para ninguém, minhas manhãs de tímidas madrugadas, minhas águas correntes de regatos imensos que não estão no corpo mans na alma e desaguam sempre noutro rio até chegarem àquele a quem os antigos chamavam Letes. Minhas queridas nuvens: É uma ingratidão amar-vos tanto e ainda não vos ter escrito. Mas sei que me hão-de perdoar. Se só agora vos falo e porque talvez esteja agora longe de vós e mais sinta a vossa falta, talvez por ter sido sempre impenetrável na minha completa solidão, e de me convencer, agora, que vou morrer tão só como nasci e cresci. "Damos"..."Dou", era o que devia ter escrito. Esqueço-me sempre de que só posso falar- e aproximadamente- de mim. Com o resto nem sequer me devia preocupar. O milagre de estar vivo é tão grande que me devia bastar para encher os dias todos, mesmo que eles fossem muitos. Mas...esquecemo-nos tão depressa destas coisas tão si

" a senhora"

" A senhora afastava-se em fato de banho ao longa da piscina e quando se encontrava a quatro ou cinco metros do professor de natação, virou a cabeça na direcção dele, sorriu-lhe, e fez-lhe um sinal com a mão. Fiquei com o coração apertado. Aquele sorriso, aquele gesto, eram de uma mulher de vinte anos! a mão como que voara com uma ligeireza encantadora. Como se, por brincadeira, ela atirasse ao amante um balão de muitas cores. O sorriso e o gesto eram cheios de sedução, ao passo que o rosto e o corpo já nada de sedutor tinham. Era a sedução de um gesto afogado na não-sedução do corpo. Mas a mulher, embora devesse saber que deixava de ser bela, esquecera-o nesse instante. Numa certa parte de nós mesmos, todos vivemos para além do tempo. Talvez só tomemos consciência da nossa idade em certos momentos excepcionais, permanecendo sem idade a maior parte do tempo. Em todo o caso, no momento em que se virou, sorriu e fez um sinal com a mão ao professor de natação ( que, incapaz de s

de lado nenhum

voltei como se volta aos países perdidos na infância. às brincadeiras em surdina, ao pentear dos cabelos das bonecas, à crença de que se consegue equilibrar um garfo na ponta de um dedo sem nunca cair. passei por todos os sabores que eras tu, o cheiro, o corpo, o teu e o meu. os rituais do dias. outras horas. as horas. voltei a outro lugar que já não me pertence e ainda assim sei de olhos bem fechados. e mais uma vez que acredito: não tenho morada certa. física. um lugar exacto. sou vento. casa é o vento entre quatro paredes. felicidade: duas brisas em conjunto. hoje não sou eu e mais alguém. nem eu com mais alguma coisa. sou eu só. sem pele, ossos, mãos (outro alguém escreve por mim agora). sem música. no tempo entre dois tempos que são, mas num tempo de não ser. agora sou de lugar nenhum.

"por mais que te diga"

"por mais que te diga tantas e tantas vezes, nunca te direi vezes que cheguem como é bom estar vivo" (MST)

ler

vou pôr uma música boa, Pat Metheny ou Keith Jarrett, e buscar o T. à sala. Vai-me aquecer os pés. vou puxar uma mantinha, fazer um cachinho que equilibro na barriga. vou mergulhar de cabeça a minha cabeça em duas ou três almofadas. tenho o comando da aparelhagem ao pé de mim vai cair. daqui a quase nada. tenho o telefone e hei-de acordar com a vibração de uma mensagem em sítios menos próprios. ou não acordo. vou desligar este pc e despedir-me de todas as coisas inúteis. vou ler. primeiro a lembrar-me de outras coisas, a pensar no que tenho para fazer, a pensar em qualquer coisa até que há-de chegar o momento a partir do qual estou só a ler. e a vida da Claúdia, João, Ana, Nuno, bem como os caminhos de Algés e Benfica, vão ser tão meus como deles. devo adormecer com o livo marcado, quando cai no chão, aberto em mariposa coom as letras para baixo, ou então as páginas fecham-se com um dos meus dedos lá instalados. um dedo que se afasta depois, no caminho da terra dos sonhos. adoro

camioneta

uma vez apanhei uma camioneta para algum lado, agora não me lembro. o terminal era no arco do cego, uma manhã cedo, inverno, com aquele frio gelado a colar-se aos casacos em forma de orvalho. a camioneta era enorme, com dois andares, atolhada de passageiros e malas. não levava muita coisa, procurei o meu lugar e calhou-me um espaço ao pé de uma senhora velhota na fila mais à frente do andar de cima. via-se a estrada e a frente era uma enorme parede de vidro. "melhor, não enjôo",pensei. lá me sentei e passado pouco tempo vem um senhor com sacos, " o meu lugar é aí", disse a apontar para a senhora gorducha ao pé de mim. "mas não posso ir lá atrás", disse ela, "enjôo e de certeza que o senhor não vai querer uma camioneta cheia de vomitado por aí". quem não dormia ainda e teve a sorte de ouvir a ameaça fez um esgar de nojo, misturado com um "espero que ela não esteja a falar a sério" e um " não acredito..discussão...queria dormir "

gosto\não gosto

gosto de cores. de passear. de estrada.guiar.andar de patins. mais de andar a pé. do sol, muito. de música, tanto. gosto das pulseiras que tenho, cada uma c um amigo especial preso. e de todas as q não tenho e doa amigos que, ainda assim, trago sempre comigo. gosto dos meus lugares especiais. viajar. não gosto de presssa. nem pressão. não gosto de não gostar, não consigo. não gosto de pensar demasiado nas coisas. gosto de ir. sentir o vento na cara. mas também gosto e pensar. gosto de corpo e pele. gosto do tobias. das minhas sobrinhas. adoro a minha avó. amo as minhas sobrinhas e sobrinho, e alguns dos meus amigos. gosto do cheiro. gosto de capuccinos. gosto de entrar no carro e escolher um cd. gosto do guincho. gosto do mar. de áfrica, do deserto. acho que vou gostar do brasil. gosto daquela outra coisa que nos faz colar medos e ir em frente. tenho medo de ter medo, mas fecho os olhos e trago para dentro o que afinal é sempre meu. gosto do "senhor vento". gosto de ge