vão no banco de trás apertados. seis pés disparatam entre eles e os bancos da frente, uma bola cai, um elástico salta, os ataques de riso sucedem-se à saída da cidade enquanto ouvimos o "encosta-te a mim" e o T. ensaia breaks.
toda a gente se alinha ao longo da marginal: os que vivem nas moradias e mansões, os que partilham andares apertados na linha de sintra, os que têm termos, os que preferem as esplanadas. sandálias altas, chinelos rasos e havainas marcam passo à chegadas das praias. está um sol bom e com imaginação descobre-se sempre um lugar onde poderiamos estender as toalhas e os corpos s tivéssemos vindo preparados.é pena. não é pena.
é junto à serra que a paisagem respira melhor. há poucos carros, há a nuvem grande que faz de chapelinho à montanha e indica o vento que devia existir e não veio, há ciclistas e poucos carros, um sol imenso num mar recortado à esquerda. curvas e curvas até lá acim. "já estivémos aqui", chutam pedrinhas e aeia com os pés. entram a correr, descem escadas inclinadas, procuram os gatos e os cães enquanto reclamam um chocolate quentinho. a nossa mesa está vazia e é para lá que vamos. há um lago com peixinhos, toques de futebol e, finalmente, chega o lanche. chega e vai embora num instante, como o vento que continua desaparecido por aqui. tenho o teu abraço e eles brincam. estão crescidos e não sabem. brincam brincam, mil vezes a brincar, a mostrar uma flor, uma espada, a espalhar açucar e chamar formigas, e procurar a lua cheia que vai aparecer daqui a nada, a pedir histórias de quando eram pequeninos. assim que acabo uma querem outra. as personagens são eles. já as ouviram milhares de vezes, mas as histórias são maneiras de nos guardarmos e um caminho de regresso ao que já foi. e eles voltam. voltam sempre, uma e outra vez ao que pediam ao dormir, à vida na estrada, a umas férias de verão, às primeiras palavras, às gargalhadas, aos medos e aos sustos, aos sonhos. têm os joelhos pretos de brincar no chão, empoleiram-se na beira do lago mas não caem, espirram mas não estão constipados, comem que se farta e não estão cheios. ouvem histórias e histórias e é como se não ouvissem, como se tivessem acabado de chegar e dissessem: "conta outra".
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