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não tenho emprego, tenho 6 horas de trabalho por semana. o resultado de projectos ainda se vai ver depois de mais uma operação que me assusta e tenho que fazer. não tenho carro, tão cedo não saio de casa e estou feliz. sinto-o de verdade enquanto te espero. os meus dias têm-te a ti. têm o caminho para a escola, muito ensonado, inclinado na cadeira de cabeça encostada à janela a fazer ricochete no alcatrão. hoje tivémos uma companhia especial e o teu sorriso de vitória a entrar na escola valeu-me a madrugada. estás crescido e ainda assim julgo ouvir-te dizer o "estranformei-me" como dizias nos teus 4 anos e que a Matilde diz agora. gosto de seres assim como és: de bem com a vida. de seres tão sensível e fazeres do que se sente o chão de certezas, mesmo que a vida às vezes nos faça voar. gosto do que ainda tens de tão pequenino e de tão crescido, e acho essas tuas duas marés tão bonitas que me apetece contá-las a quem vejo. não conto porque se estivesses ao meu lado dizias baixinho, a olhar para o chão, "não contes essas coisas aqui!" enquanto me puxavas um dedo da mão devagarinho para eu saber que é mesmo uma coisa importante a respeitar. não conto e espero que os que te vêm te vejam tão bonito como eu te acho.
à tarde vou-te buscar. estou à tua espera agora. quero que vejas a luz do rio no caminho para casa mas não te digo isso. és tu que procuras o azul entre os carros que passam, a linha do comboio e os cargueiros vindos de longe. mais tarde, enquanto vemos quem aquece o jantar, olhas pela janela. "quando o céu está cor-de-rosa é porque vai estar bom tempo, não é?é o que tu dizes. e dizes "cenas" e "pessoal", por que é que dizes tantas vezes pessoal? ( e eu a rir-me) só tu para me chamares para ver o cor do céu ao anoitecer!". és tu que eu espero agora e que me vai ocupar a mão com a lancheira, as camisolas e a alça da mochila que há-de cair nas escadas umas duas vezes. és tu que eu vou adormcer e contar histórias enquanto ocupas a cama toda. é teu o meu tempo agora. ainda bem que és tu. ainda bem estes dias para um dia ser eu a dizer aos meus filhos " a Mãe tomava conta do T. e ele ensinou-me a tomar conta de vocês, a chamar-vos para ver a cor do céu".

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