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janeiro

estes são os dias de desejar um saco de água quente permanente nos pés, no pescoço, na pele dos pulsos que fica à mostra entre o fim da camisola e o começo das luvas. estes são os dias de gripe e de quase toda a gente na cama. e os outros que se encaminham para lá. hoje gostava de estrada. de encontrar os rosas e lilazes da a2 no fim do dia e achar-me no alentejo. e talvez antes atravessar o sado de barco na esperança eterna de ver um golfinho. apetecia-me ouvir música no carro, até lá chegar, sem nunca saber onde esse "lá" fica afinal. parar num supermercado para água e bolachas, daquelas mercearias pequenas das estradas nacionais, ou então uma estação de serviço. gostava da planície sim, do espaço recto entre chaõ e céu como em áfrica ( que me faz falta).
ou seguir para norte e encontrar aquele abraço no fim, além de uma correria de passos mais pequenos na minha direcção, e alguém que me pula no colo. comer sopa verde, deitar-me no puff, no chão de madeira, mesmo ao pé do aquecedor e saber que faz mal, que ainda me constipo, e é uma delícia que estou disposta a trocar por uma constipação. de ver os tios e a vida inteira dos dois juntos. de te contar a ti histórias de quando eras pequenina e nos conhecemos. e contigo ía conversar. gosto de vos dar uma "boa noite", já as duas na cama, e eu vou para a sala. vejo um episódio de telenovela que não sigo mas me parece familiar. sento-me no chão, mais tarde, com canções que só há ali, e se o dia nasce vejo-o pela janela, desde a vila até cá acima.
estes são o dias de gripe em que me tocam à porta meninas vizinhas e perguntam " A C. pode vir?...Doente? O que é que ela tem?". Primeiro a vizinha de cima, depois a mãe da vizinha de cima ( e um convite para jantar), depois a vizinha da frente. estes são os dias em que gostava que não fosse tão difícil levar-te a passear, arriscar um passo fora do traço, qualquer coisa original. e talvez aí percebesses como é bom ver alguém chegar.


Comentários

Mar disse…
Passo aqui muitas vezes para te ler. É engraçado... passo aqui mais vezes do que no meu próprio blog. Nestes dias cheios de coisas para fazer e sem tempo para nada, consigo encontrar uns minutos para te ler. É engraçado descobrir na escrita das pessoas coisas que nos dizem tanto, pequenas cumplicidades que não sabíamos existir. É como se conhecessemos a pessoa de novo. É giro, porque descobrem-se cumplicidades que muitas vezes não se descobrem presencialmente. Nestes últimos dias também me tem andado a apetecer estrada. Sair por aí, de carro, percorrer as estradas, sem saber ao certo onde vamos chegar, mas sabendo sempre que o sítio vai ser cúmplice e nos vai fazer bem. Para uma noite de música em palavras que nos aquecem por dentro e nos fazem ser mais nós. "No próximo estamos lá". Mesmo! Beijinhos, mts

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dear Sophia, it's really late. I've just arrived home after a dinner at my grandma's house. she's still so special. everyone ate a lot, we talked about old friends, ourselves when we were growing up. there are always stories about africa. we are all so linked there, so many miles away and yet. we talked about you, alexis and darril. and also about the bulldogs that my uncle used to have and were pretty awfull and scary. I was really afraid of them, but one day I grabbed a horn and chased them trough the garden until they were crying with the noise. never bothered me again. we also mentioned cape town and pretoria, your house, your family, I remember you so dearly it's hard to say. you were my friend and were a bit like me. you thaught me english and had the patiente enough to hear me reading, laughing out loud in a bed full of animals and pillows that we throwed until they reached the ceiling, you knew the piano but hated it. you knew everybody and everything so wel

sorriso de março

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injusto

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