confunde-me os que pensam na vida como sendo sempre o mesmo: os mesmos lugares, as mesmas pessoas, a mesma rotima entre compromissos de agenda. eu que nunca consigo isso, que sinto que há lugares que deixaram de ser meus, e pessoas com as quais não me dou tanto, mas de quem gosto ainda (de quem me lembro enquanto mexo um café, quando alguém diz uma frase distraída que vai directa a uma memória), eu que sinto que a vida me atavessa como em enormes corredores de vento, que me traz coisas, que me abana e me leva com ela.
não consigo ficar presa no que já foi. em mim a vida tem pausas, os momentos de quietude e perfeição também, tão importantes como o movimento os dias. o movimento da terra em volta do sol, o vento na cara, as marés que se sucedem na areia que visito. e volto atrás sim, a lugares dentro de mim onde o meu presente não se apresenta tantas vezes, só não consigo voltar quando me querem prender lá. quando me fecham a janela na inocência e falsa segurança de que cada vez que se abrir a janela a paisagem do lado de lá vai ser a mesma.
olha, o mundo roda, mas sempre foi assim. as coisas mudam, nós também, mas nada se perde no caminho. não me sufoques no que já não sou. não me tenhas aí, para sempre na minha infância. não me queiras dessa maneira.
"Lembrando que há decisões que não dependem de nós mas desse tempo cuja mudança nos obriga a desfazer-nos de uma parte do que somos - fazendo com que, no fim, nos demos conta de que aquilo de que somos feitos é o próprio movimento que nos empurra de um lado para o outro, e não do que perdemos quando mudamos."
(Nuno Júdice)
(Rui Rodrigues)
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