houve um fim de tarde numa praia a metade assim. o céu era de verão e mais leve. mais alto. nesse dia a praia era comprida, apesar de ser só uma metade de praia ( a outra metade fugiu até hoje e pemanece à procura da correspondente, como nas histórias de almas gémeas). nesse fim de tarde quase adormecemos no areal. não me lembro exactamente quem estava. sei que depois fomos para casa e jantámos. sim, foi nesse dia em que jantámos no terraço e nos fartámos de rir até a noite ser noite-pontilhada-de-estrelas e no esquecemos quem éramos. por não ser preciso lembrar. e antes do jantar sentei-me no sofá. ainda era dia. o céu era azul turquesa, encaixado na moldura castanha da janela. castanho com manchas de sal trazidas no vento, desde a praia até ali. nessa moldura cabia um pouco de céu. um avião veio e cortou o azul. não completamente, para dividir, apareceu para dizer que existia. foi num traço branco, borrado, que disse "olá" e "adeus". em curva.
com essa imagem lembrei-me de episódios. momentos pequenos que, como meteoros, nos visitam de tempos a tempos. sem aviso. voltam de vez em quando. como agora, em que vi esta imagem e me lembrei de uma praia a metade. de nós lá. depois do azul dentro da janela e a visita de um pequeno avião.
a imagem a que digo adeus agora
e há-de voltar a aparecer
numa curva
a dizer que existe
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