" A senhora afastava-se em fato de banho ao longa da piscina e quando se encontrava a quatro ou cinco metros do professor de natação, virou a cabeça na direcção dele, sorriu-lhe, e fez-lhe um sinal com a mão. Fiquei com o coração apertado. Aquele sorriso, aquele gesto, eram de uma mulher de vinte anos! a mão como que voara com uma ligeireza encantadora. Como se, por brincadeira, ela atirasse ao amante um balão de muitas cores. O sorriso e o gesto eram cheios de sedução, ao passo que o rosto e o corpo já nada de sedutor tinham. Era a sedução de um gesto afogado na não-sedução do corpo. Mas a mulher, embora devesse saber que deixava de ser bela, esquecera-o nesse instante. Numa certa parte de nós mesmos, todos vivemos para além do tempo. Talvez só tomemos consciência da nossa idade em certos momentos excepcionais, permanecendo sem idade a maior parte do tempo. Em todo o caso, no momento em que se virou, sorriu e fez um sinal com a mão ao professor de natação ( que, incapaz de se conter por mais tempo, rebentou a rir), a senhora nada sabia da sua idade. Graças a ese gesto, pelo espaço de um segundo, uma essência da sedução dela, não dependente do tempo, revelou-se e deslumbrou-me. "
" A Imortalidade", Milan Kundera
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