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de lado nenhum

voltei como se volta aos países perdidos na infância. às brincadeiras em surdina, ao pentear dos cabelos das bonecas, à crença de que se consegue equilibrar um garfo na ponta de um dedo sem nunca cair. passei por todos os sabores que eras tu, o cheiro, o corpo, o teu e o meu. os rituais do dias. outras horas. as horas. voltei a outro lugar que já não me pertence e ainda assim sei de olhos bem fechados. e mais uma vez que acredito: não tenho morada certa. física. um lugar exacto. sou vento. casa é o vento entre quatro paredes. felicidade: duas brisas em conjunto. hoje não sou eu e mais alguém. nem eu com mais alguma coisa. sou eu só. sem pele, ossos, mãos (outro alguém escreve por mim agora). sem música. no tempo entre dois tempos que são, mas num tempo de não ser. agora sou de lugar nenhum.

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