voltei como se volta aos países perdidos na infância. às brincadeiras em surdina, ao pentear dos cabelos das bonecas, à crença de que se consegue equilibrar um garfo na ponta de um dedo sem nunca cair. passei por todos os sabores que eras tu, o cheiro, o corpo, o teu e o meu. os rituais do dias. outras horas. as horas. voltei a outro lugar que já não me pertence e ainda assim sei de olhos bem fechados. e mais uma vez que acredito: não tenho morada certa. física. um lugar exacto. sou vento. casa é o vento entre quatro paredes. felicidade: duas brisas em conjunto. hoje não sou eu e mais alguém. nem eu com mais alguma coisa. sou eu só. sem pele, ossos, mãos (outro alguém escreve por mim agora). sem música. no tempo entre dois tempos que são, mas num tempo de não ser. agora sou de lugar nenhum.
Querido J, Estou finalmente preparada para me despedir de ti com o mesmo amor com que fiquei. Escrevo-te com a cor do mar em dias de Verão, esse mar que cura e leva todas as coisas. As transforma. Tenho sonhado contigo nos últimos dias, com carinho. Lembro-me do teu cheiro, da tua pele lisa no peito e costas. Lembro-me da tua respiração ao dormir, de sentir quando chegavas a Lisboa ou qualquer outro lugar no mundo, independentemente do que estava a fazer no meu dia.A guiar, a tomar café, entre emails e reuniões de trabalho ou qualquer outro compromisso de agenda. O que me magoou já não magoa. Amei-te muito e sei que esse amor vai continuar a existir para além de nós da mesma maneira que a vista da minha antiga casa continua, apesar de eu já não morar lá e não a encontrar todas as manhãs. O amor, como a vista e o horizonte, existe desde o princípio dos tempos e não precisa de pessoas, existe por si. Este amor vai, assim, existir para além de nós. Voa e viaja, desenha cenários n...
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