uma vez apanhei uma camioneta para algum lado, agora não me lembro. o terminal era no arco do cego, uma manhã cedo, inverno, com aquele frio gelado a colar-se aos casacos em forma de orvalho. a camioneta era enorme, com dois andares, atolhada de passageiros e malas. não levava muita coisa, procurei o meu lugar e calhou-me um espaço ao pé de uma senhora velhota na fila mais à frente do andar de cima. via-se a estrada e a frente era uma enorme parede de vidro. "melhor, não enjôo",pensei. lá me sentei e passado pouco tempo vem um senhor com sacos, " o meu lugar é aí", disse a apontar para a senhora gorducha ao pé de mim. "mas não posso ir lá atrás", disse ela, "enjôo e de certeza que o senhor não vai querer uma camioneta cheia de vomitado por aí". quem não dormia ainda e teve a sorte de ouvir a ameaça fez um esgar de nojo, misturado com um "espero que ela não esteja a falar a sério" e um " não acredito..discussão...queria dormir ". teve que vir o motorista, já sentado e alinhado com os pedais e botões das portas, pornto a arrancar. subiu as escadas em caracol, disse à senhora " não pode estar aí, os lugares são marcados e esse pertence a este senhor". lá se sentou o senhor vitoroso, lá foi a outra gorducha, quase sem conseguir passar no corredor de cadeiras, com um tricôt pendurado, mais sacos de plástico e os óculos presos num fio e uma haste solta. " eu vou vomitar, bem aviso! vão ver". lá me apertei para que ela saísse, respirei fundo e voltei a apertar-me para entrar o outro senhor, a rir de contente, não porque só pelo lugar mas por ser interessante ganhar qualquer coisa. sentou-se, abanou a cadeira para trás e para a fernte a encostar costas e pernas no banco, puxou as calças para cima, com um safanão perto dos joelhos, e deixou à mostra umas meias às riscas ou quadrados, com o mesmo padrão dos estofos da camioneta. o banco era dele.
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