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o meu pai

o meu pai não é alto. tem uma barriga bem redonda, especialmente cómica quando está de perfil ou em fato de banho. era nessa barriga que eu gostava de adormecer quando era muito menina e me despedia do dia a subir e descer naquela respiração. sabe dar abraços, com um aperto final no fim, mesmo no último instante em que os braços ainda estão juntos. levantava-me de pernas para o ar e andava comigo à roda, deixava-me acordá-lo de manhã ou pedir 5 ou 6 gelados, ou umas quantas idas ao jardim da estrela para andar de bicicleta. lá punhamos o meu orgulho de "bina" em cima de um carocha antigo que, apesar da desconfiança alheia, sempre chegou ao fim dos caminhos. ainda hoje anda, com mais anos que eu, como um irmão mais velho. o pai adora bacalhau coom batatas e sopa de feijão. gosta de carochas e de passar despercebido. gosta do céu porque "o meu pai era avião". o pai gosta de redes brasileiras, ou então sou eu que gosto e ele gosta comigo também. gosta das ondas e do mar inteiro, e mesmo quando a água está gelada mergulha. tem um riso que, quando se solta, é como ele a voar. houve alturas em que vivemos colados, outras em que mal nos falámos. e ao fim de tanta distância, todos os dias tenho saudades tuas pai. e vou ter contigo, mesmo que não possa de facto ir aí. vou num airbus ou boeing que cruza os céus de lisboa, ou num carocha que passa. às vezes vejo-te nas minhas mãos, dizem que as temos parecidas. vou guardar sempre essa coisa que me ensinaste. voar, não é?

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dear Sophia, it's really late. I've just arrived home after a dinner at my grandma's house. she's still so special. everyone ate a lot, we talked about old friends, ourselves when we were growing up. there are always stories about africa. we are all so linked there, so many miles away and yet. we talked about you, alexis and darril. and also about the bulldogs that my uncle used to have and were pretty awfull and scary. I was really afraid of them, but one day I grabbed a horn and chased them trough the garden until they were crying with the noise. never bothered me again. we also mentioned cape town and pretoria, your house, your family, I remember you so dearly it's hard to say. you were my friend and were a bit like me. you thaught me english and had the patiente enough to hear me reading, laughing out loud in a bed full of animals and pillows that we throwed until they reached the ceiling, you knew the piano but hated it. you knew everybody and everything so wel

sorriso de março

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injusto

tenho visto muito menos os meus vizinhos do lado. nem pensei muito no assunto. meteu-se a parte final do ano, os exames e as últimas entregas de trabalhos, e depois houve o trabalho no colégio, alguns dias de praia e o algarve. cheguei hoje a casa e a minha mãe contou-me que o joão, o filho, mais novo de todos, teve um acidente. estava a deslizar no corrimão da escola e caíu. está há dois meses no hospital, em coma. neste momento está em alcoitão, reconhece a mãe, tem uma irmã que entra pelo quarto a dar força a todos e a dizer que "ele vai ficar bom". e o joão é só um menino que eu às vezes vejo, que às vezes toca á camapaínha e pegunta se o tobias pode ir lá brincar um bocadinho para casa. pergunta-me sempre se ele faz xixi, eu digo que não mas espero que o cão não tenha nenhuma vontade repentina que me estrague o plano e a brincadeira do joão. tem uma mochila quase maior que ele e uns olhos à chinês. vejo-o nas escadas. agora percebo o olhar triste do pai e da mãe, quan