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"(...) demonstrou-nos que as divisões são importantes em dadas circunstâncias, mas não são tudo. Há poderes imateriais, não avaliáveis a peso, que seja como for pesam.
Estamos rodeados de poderes imateriais, que não se limitam aos que denominamos por valores espirituais, como uma doutrina religiosa. Também é um poder imaterial o das raízes quadradas, cuja lei severa sobrevive aos séculos e aos decretos não só de Estaline, mas até do próprio Papa. E entre estes poderes eu também incluiria o da tradição literária, ou seja, do conjunto de textos que a humanidade produziu ou produz não para efeitos práticos (como ter registos, anotar leis e fórmulas científicas, fazer actas de sessões ou estabelecer horários ferroviários) mas antes gratia sui , por amor de si própria - e que se leêm por prazer, elevação espiritual, ampliação de conhecimentos, se calhar por puro passatempo, sem que ninguém nos obrigue a fazê-lo (se exceptuarmos as obrigações escolares).
É isto que dizem todas as grandes histórias, quando muito substituindo Deus pelo destino, ou pelas leis inexoráveis da vida. A função dos contos "inalteráveis" é justamente esta: contra todos os nossos desejos de mudar o destino, dão-nos palpavelmente a impossibilidade de o alterar. E assim fazendo, seja qual for a história que contam, também contam a nossa, e por isso os lemos e amamos. Temos necessidade da sua severa lição "repressiva". A narrativa hipertextual pode-nos educar oara a liberdade e para a criatividade. É bom, mas não é tudo. Os contos "já feitos" ensinam-nos também a morrer."
Umberto Eco

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dear Sophia, it's really late. I've just arrived home after a dinner at my grandma's house. she's still so special. everyone ate a lot, we talked about old friends, ourselves when we were growing up. there are always stories about africa. we are all so linked there, so many miles away and yet. we talked about you, alexis and darril. and also about the bulldogs that my uncle used to have and were pretty awfull and scary. I was really afraid of them, but one day I grabbed a horn and chased them trough the garden until they were crying with the noise. never bothered me again. we also mentioned cape town and pretoria, your house, your family, I remember you so dearly it's hard to say. you were my friend and were a bit like me. you thaught me english and had the patiente enough to hear me reading, laughing out loud in a bed full of animals and pillows that we throwed until they reached the ceiling, you knew the piano but hated it. you knew everybody and everything so wel

sorriso de março

hoje de manhã ía no autocarro a ouvir música e a pensar em qualquer outra coisa para além do transporte e da manhã em volta. O que me fazía regressar ao banco do bus eram as sacudidelas da tosse que me tem feito companhia e ajudava a mudar de posição no banco de forma quase automática. Isto, claro, além de uma nova arrumação dos pulmões, já que suspeito que me saíram várias vezes cá para fora, embora ninguém mostrasse o olhar espantado de "pulmões-ao-relento". Depois de uma das sacudidelas, que não contei por serem muitas, vi uma caixa de medicamentos no meu colo e uma uma senhora de olhos transparentes que a segurava. "Tome, ajudam muito. Tambémm estive assim e sei bem o que é", disse ela. Tinha um sorriso inteiro, estava muito arranjada, com o ar de quem não tem sono e de que todos os dias são dias especiais, e tinha olhos de Tejo. não são as palavras que fazem as pessoas, mas os gestos. este veio com a solidariedade dos viajantes, um sorriso e um olhar. Obriga

injusto

tenho visto muito menos os meus vizinhos do lado. nem pensei muito no assunto. meteu-se a parte final do ano, os exames e as últimas entregas de trabalhos, e depois houve o trabalho no colégio, alguns dias de praia e o algarve. cheguei hoje a casa e a minha mãe contou-me que o joão, o filho, mais novo de todos, teve um acidente. estava a deslizar no corrimão da escola e caíu. está há dois meses no hospital, em coma. neste momento está em alcoitão, reconhece a mãe, tem uma irmã que entra pelo quarto a dar força a todos e a dizer que "ele vai ficar bom". e o joão é só um menino que eu às vezes vejo, que às vezes toca á camapaínha e pegunta se o tobias pode ir lá brincar um bocadinho para casa. pergunta-me sempre se ele faz xixi, eu digo que não mas espero que o cão não tenha nenhuma vontade repentina que me estrague o plano e a brincadeira do joão. tem uma mochila quase maior que ele e uns olhos à chinês. vejo-o nas escadas. agora percebo o olhar triste do pai e da mãe, quan