O Lopes vive em Campo de Ourique. Divorciado, joga ao king e à canasta nas noites de sexta e atravessa a pista do estádio universitário até o peito abrir fechar como acordeão aos sábados de manhã. Apara o bigode aos domingos e janta com a Mãe nessa mesma noite, tudo o mais são os percursos de autocarro até à oficina, regressando à noite. Acha-se bonito, as senhoras não. Reformou-se. Para encher o tempo antigo do autocarro e da oficina trocou-os pelo rio e anda a pé nos dias úteis. Pode levar um cão de um vizinho, “coitado do bicho nunca passeia!”, e à tarde trabalha a sério num anexo onde guarda tudo a que deitou a mão desde que era criança. Tralhas, os seus babetes, a fotografia “do meu menino tão lindo no baptizado” assinada pela Mãe e emoldurada a dourado, os óculos de massa do Pai, um urso de peluche com um olho e um arco amolgado que dantes descia a calçada sem hesitar a fazer “vvvvum vvvvum”. Agora tem um trabalho sério, de homem. Arrasta móveis de que não gosta de um lado para...