meu amor, há gaivotas em lisboa, carros, passadeiras. peões não. ninguém anda a pé, só a motor. talvez as gaivotas sejam a pilhas. percorri o caminho de casa até à casa da música. não tinha sons, talvez devido à falta de gente e às tomadas desligadas da ficha. ainda assim, imaginei as nossas músicas e trauteei-as baixinho, embora ninguém me ouvisse. o sol está atrás das nuvens. ando. não se distingue o acizentado das asas que cortam a manhã das nuvens, por trás. no rossio, sem ninguém, nem sequer o som da água da fonte a bater no fundo, fechei os olhos e vi-te. a sorrir. os dentes a espreitar dos lábios, pessoas de curiosidade infantil em janelas onde se debruçam palavras.tinhas o cabelo solto e com sal, talvez Verão, e o futuro era a tua gola apontada ao céu. as mãos não as vi. julgo que tocavam as minhas por estarem quentes sem saco de castanhos assadas e, afinal, estava só no rossio. só podiam ser as tuas mãos a ter as minhas, um nascimento silencioso. falaste? a tua boca moveu-se. ...