fui ao moínho.levei o meu carro, que não é um jipe mas podia ser,e lá fomos. cruzei a estrada mais bonita, primeiro no mar, depois na serra. até ao cume, onde se pode esticar o braço e tocar numa estrela. foi estranho voltar sem ti. mesmo que seja bom. mesmo que faça parte quando se mostra a quem não conhece. tenta-se dizer cada curva, o som do carro no asfalto, explicar as nuvens e o tempo que trazem. depois não há palvras. reza-se para dentro, na esperança de que quem está compreenda.
é tempo de reencontrar atalhos, fazer caminhos onde não existem. tira-se o cd. aqui não se conduz de cinto. está sempre aquele frio de ter vontade de uma manta à volta. o mar está em todo o lado com o céu e a linha do horizonte a fazer uma curva inteira ao fundo. adoro o barulho dos pneus nas pedrinhas em cada curva. os saltos. a dúvida de cada buraco. as subidas. o chiar dos travões. o volante a mexer, muito diferente de uma auto-estrada. aqui não há pressa nem tempo.
os caminhos são apertados. há que aproveitar, porque para a próxima a serra está diferente. trilhos de hoje vão estar com mato, outros hão-de surgir. mas disso nunca temos a certeza. comprei chocolates, água e bolachas. comemos queijadas no "senhor feliz". acho que não me reconheceu desde a última vez, mas foi bom vê-lo. o café tinha alguns velhotes e a tv ligada no odisseia. o som estava no mínimo, mas ninguém falava nem tirava os olhos da televisão. por momentos pensei que fosse um jogo de futebol ou um programa voyer, mas não. era sobre cavalos selvagens numa serra. achei a gente da serra muito mais sincera com ela própria. só não percebi o porquê de não porem som, eles lá sabem.
descemos em curvas apertadas. tentei encontrar o corta-mato que uma vez fizémos. nesse dia encontrámos uma casa feita com quatro paredes completamente só na imensidão de uma montanha, mar e céu. nunca soubémos se vive lá alguém. ficámos com muita curiosidade. se alguém viver ali escolheu o lado só do mundo. não quero estragar isso.
quando se encontra a estrada de regresso o asfalto parece de primeira classe. o carro não chia, não entra areia nem pó. o roçar nas pedras e silvas dá lugar ao som da luz do farol na baía.
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