Está a dar um programa sobre Stephen Hawking na televisão. Para quem não o conhece, é o maior físico dos nosso tempos. Não sei grandes dados biográficos a não ser que conseguiu combinar duas teorias tão impossíveis como a da Relatividade, de Einstein, e a Mecânica Quântica, que não sei quem "inventou". A primeira fala dos buracos negros e apresenta-os como os sistemas mais imprevisíveis do universo, onde a força da gravidade é tão forte que funciona como uma membrana que se atravessa apenas para um lado: o de lá. Nada volta, nem mesmo a luz, daí se chamar negro. Falamos do infinitamente grande. A mecânica quântica, por outro lado (aparentemente...), explica o comportamento de todas as partículas essenciais que formam o nosso Universo. O infinitamente pequeno. Estamos a falar de duas margens do mesmo rio, "kepela", onde as linguagens matemáticas são diferentes e a rivalidade é tanta que profissionais de um lado não comunicavam com o outro.
Hawking disse que ía tentar, na sua sabedoria de homem, unir os dois pólos, e provou: o que se passa no infinitamente grande é similar ao que acontece no infinitamente pequeno. Juntou o impossível. Conseguiu atingir uma outra compreensão do universo, além de descobrir que os buracos negros emitem uma radiação, "radiação de Hawking", que os vai dissolvendo. Ou seja, funcionam como uma nuvem de vapor em grande grande escala que se vai soltando e arrefecendo nas pontas, como a sopa quente no prato. E um dia o próprio buraco negro desaparece, evapora-se a ele próprio quando chegar ao centro de si, o que é uma morte bonita. E prova que a luz é maior.
Hawking fez isto numa cadeira de rodas. Tem uma doença, esclerose em placas, que condena o seu corpo a uma lenta degradação muscular. Mas isto já o sabia aos vinte anos, exactamente na mesma altura em que decidiu que ía levar uma vida normal. Casou, teve filhos, três, vive numa cadeira de rodas sim, fala com um sintetizador de voz mas fez dessa a sua identidade e tornou-a humana porque fala do mundo ao mundo. É uma bela maneira de viver. Ri-me por dentro quando explicou que pensa primeiro numa imagem que lhe surge, e depois segue-a com a intuição e revê na cabeça incontáveis vezes as fórmulas matemáticas mais exaustivas do mundo. Ri-me por tanta coisa começar numa imagem que depois se persegue e transformamos em algo único. Stephen não consegue escrever desde os vinte e poucos, por isso imaginem as fórmulas gigantescas só dentro da vossa cabeça. Sigam-nas até descobrir uma solução.
Gosto de pensar que é possível o impossível, porque afinal há muita coisa assim. Por exemplo este deficiente que decidiu ter uma vida normal numa sociedade tão anormal nessas matérias de normalidade. E por afinal ter uma normalidade que é genial.
Todas as vidas são assim se virmos para além de imagens. Porque há um lado que só se conhece de olhos fechados. Falamos de pó de estrelas e esse existe em todo o lado. Muitas vezes, a maior parte das vezes, trata-se de uma imagem e de colocar a pergunta certa para se procurarem as respostas realmente importantes ( que são do universo maior, do mais pequeno, e dos entretantos como a farinha que se chama "pó de estrelas" quando as avós nos ensinam a cozinhar o primeiro bolo.) O pó de estrelas tem outro nome como radiação xpto e atravessa a terra em todos os instantes. Cruza os pólos terrestres de um lado ao outro em instantes, sem se saber como nem porquê. Pelo menos não se sabia quando uma vez fui ao Museu da Eletricidade ver uma exposição. Tinha uns dez anos e havia um ecrã enorme, sensível às tais radiações, e assim que elas passavam ali aparecia um traço do seu caminho. E um som, alto e cortante, como alguma coisa que não sei. Não me lembro de mais nada assim. Estrelas atravessam a Terra a cada instante. O nosso planeta e galáxia, ninguém sabe por que acaso se formaram, mas estão aqui. Nem eu sei a razão de ter nascido (talvez o amor talvez não sei) nem de viver neste mundo louco grande e também tão pequenino. Falamos de pó de estrelas. E as estrelas estão em todo o lado.
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